sexta-feira, 2 de agosto de 2013

UMA MENTE BRILHANTE: UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO DA FIGURA DO DOENTE MENTAL SOBRE A VISÃO DA PSICANÁLISE

                                                                     Davi Querino da Silva


Resumo

Este artigo apresenta uma análise e reflexão do filme Uma Mente Brilhante, destacando a representação da imagem da loucura, portanto no que concerne a percepção imagética acerca da suposta visão dos cineastas e de  uma literatura relevante a temática.
Uma série de filmes vem à mente, porém destaca-se aqui o que enfoca a figura do “doente mental” em vários momentos. Geralmente o dito “louco” é caracterizado pelo descontrole, impossibilitado de uma vida social contrapondo-se aos conhecidos como “normais”.

Palavras-chave: Cinema, arteterapia e loucura.

 



ABSTRACT

This article presents an analysis and discussion of the film A Beautiful Mind, highlighting the image representation of madness, so in terms of image perception about the alleged vision of the filmmakers and a theme relevant literature.
A series of films come to mind, but stands out here that focuses on the figure of the "mentally ill" at various times. Usually called "crazy" is characterized by lack of control, unable to socialize in opposition to the known as "normal."

Keywords: Cinema, art therapy and madness.


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1.  Introdução.

            O presente trabalho apresenta uma análise e reflexão do filme Uma mente brilhante, destacando a representação da imagem da loucura, portanto no que concerne a percepção imagética acerca da suposta visão dos cineastas e de uma literatura relevante a temática.
            Uma série de filmes vem à mente, porém destaca-se aqui o que enfoca a figura do “doente mental” em vários momentos. Geralmente o dito “louco” é caracterizado pelo descontrole, impossibilitado de uma vida social contrapondo-se aos conhecidos como “normais”.
            Os filmes discutem padrões de estereótipos. Se fosse possível traçar uma breve classificação dos modos como são postos em cena, teríamos filmes que trariam a doença mental como patologia biológica, cultural e como momentos. Nesse inventário, o que distingue o “louco” do “não louco”, do “normal” do “anormal”, quando posto em cena configura-se como uma instancia que fazem com que aqueles que se deixa envolver pela idéia do normal ou anormal se afaste um do outro. Desse modo, passa-se a questionar e refletir sobre  como o “louco” é visto pelo cinema.

















2. Analise do filme uma mente Brilhante

            Uma mente Brilhante é um filme de Ron Howard, que traz na sua estética a doença mental e a genialidade de John Nash, matemático que aos 21 anos formula um teorema que o tornou aclamado na sua área de atuação. Mas em pouco tempo ele torna-se um homem atormentado, tendo constantes alucinações, chegando a ser diagnosticado como esquizofrênico[1], mas após anos de luta consegue reverter esse quadro, sendo  premiado com o Nobel.  A esquizofrenia  deve ser entendida como uma clivagem do ego.
             Nash era obcecado pelo perfeito, e racional ao extremo, esse era um fator que acabou o afastando das outras pessoas, vivendo isolado. Na universidade, sentia-se um fracasso, era igual a todos, no entanto tinha mania de grandeza, objetivava ser brilhante sempre, obcecado na idéia de encontrar a teoria original  que o colocasse em destaque ( então aparece seu amigo Charles), que o aconselha a procurar  ou buscar respostas observando as pessoas, a paisagem, a natureza e não preso entre quatro paredes, com o elevado ego.
            Mas foi em Alicia na aula de matemática ministrada por ele que o chamou atenção, pela forma singela e simples como ela tornara as coisas e até os problemas ou equações matemáticas mais fáceis.
            Mais tarde eles se apaixonam e se casam, em seguida tem um filho. Tudo aparentemente estava bem, John trabalha muito, até que  se descobre que havia algo fora do comum, ele começa a ter delírios e alucinações. Alicia é obrigada a interná-lo em um hospital psiquiátrico, onde é diagnosticado como esquizofrênico.
            Acerca da esquizofrenia Nasar descreve que:
  se assim podemos dizer, a esquizofrenia pode ser uma doença do raciocínio  particularmente nas fases iniciais.  A partir do inicio do século XX, os grandes estudiosos da doença observaram que os pacientes incluíam pessoas com mentes brilhantes, que os delírios  que muitas vezes, embora nem sempre, apareciam com o distúrbio incluíam vôos da imaginação sutis, sofisticados e complexos.
( NASAR, 2006, P. 24)

            O filme segue com uma serie de desafios, John luta contra a sua suposta doença  e contra o preconceito.
            John Nash se “cura” na medida em que foi capaz de discernir  entre o real e a alucinação, quando ele percebeu que a “ menininha”(visível só na imaginação dele) não crescia.
            Ao observamos a função do ego do personagem provavelmente seu senso de percepção do mundo estava alterado culminando nas alucinações, isto é, a vida de decodificador secreto não existia, e seus pensamentos transformaram-se em delírios[2].
Ao orientar-se psiquicamente e alopsiquicamente, consegue controlar os momentos de neuroses e/ou psicoses.
            O filme chama-se uma mente brilhante justamente porque o paciente pode perceber o que fazia parte do contexto real e o que estava no campo da alucinação.
            Ele continuou sentindo alguns “sintomas”, porém passou a ter consciência da realidade e aceitou, culminando com a superação dos efeitos dos sintomas.
            Acerca do sintoma Krutzen assevera que: o sintoma é uma saída, uma produção que precisa  ser positivada, contemplada em sua dimensão de resposta a um momento de crise. ( KRUTZEN, 2008,p. 15).
            Uma cena importantíssima e pertinente destacar é quando os “amigos” imaginários de John, o incita matar a sua esposa, ele volta à realidade e lutará contra isso e começa a se tratar. Esse voltar à realidade é a atuação das funções e dos mecanismos de defesa do ego.
            Nesse momento é perceptível que John Nash teve consciência do que estava acontecendo, ou seja, há uma ação do ego e do superego nesse processo. O fator importante no processo de “tratamento” do paciente foi o seu mecanismo de defesa, que em algumas instancias pode ser entendido como um surto psicótico ou a neurose e a consciência dessa fase pela qual ele estava passando.
            As constantes crises esquizofrênicas de John podem ser em detrimento da obsessão pelos teoremas. Em suas alucinações vive um mundo de fantasia, onde o mesmo é um decifrador de códigos que trabalha para o pentágono e conseqüentemente  deverá manter o sigilo profissional. Depois acaba sendo perseguido pelos supostos membros.
            O filme apresenta uma narrativa muito fragmentada e por vezes sem nexos, talvez o espectador só se der conta que se trata de alucinações, praticamente na metade do filme.
            O filme foi baseado em um livro de Sylvia Nasar, e roteirista Akiva Goldsman.
É interessante observar que o filme, traz nos seus elementos fílmicos o louco como individuo que tem ou teve uma atividade na vida social, contradizendo a concepção de que alguém que aparenta um distúrbio ou momentos de psicoses seja  incapaz de exercer uma profissão ou de conviver com as outras pessoas.
            No final do filme o personagem John Nash diz para Alicia em publico:
Sempre acreditei em números, em equações  e na lógica que leva a razão. Mas depois me pergunto: o que é mesmo a lógica, quem decide o que é racional? O delírio e de volta então fiz a descoberta mais importante da minha vida, a descoberta nas equações do amor, onde alguma lógica existe. Estou aqui por sua causa, você é a razão pela qual  existo, você é minha razão[3].
            Nessa cena e trecho fica evidente um dos elementos impulsionador para as transformações na vida de John Nash, o amor, ou seja, alguém que o escutou em seu significante, havendo um compartilhamento do “ sintoma” que não é mais dele.






















3. Considerações Finais

            A  analise e as pesquisas cinematográfica acerca de Uma Mente Brilhante aponta para que a representação da imagem do doente mental é entendida como momentos de psicoses e neuroses. Esses momentos não devem ser entendidos como patologias, pois a psicanálise entende que esses surtos fazem parte do humano, é uma maneira de defesa de re-estabilizar algo que não esta funcionando bem ou alterado.
           No filme Uma mente Brilhante John Nash é um neurótico que era obcecado pelos teoremas matemáticos e tinha alucinações. 
            O personagem só consegue se cuidar ou deixar que o cuide quando consegue distinguir o que fazia parte do contexto do real e que estava no mundo das alucinações e fantasias. Isso foi possível por ter encontrado alguém com quem pode compartilhar a sua dor ( o conectar-se, está em rede). John não deixou de ver seus “fantasmas” ou seus amigos imaginários, apenas aprendeu como enfrentar essas fases de sua vida.
 A história de John Nash discute a genialidade, a loucura e um novo despertar.





























4. Referencias

Esquizofrenia. Disponível em: http://gballone.sites.uol.com.br/voce/esq.html, acesso em 20.10.2010.

Delírio. Disponível em: http://www.psicosite.com.br/tra/psi/psicose.htm, acesso em 10.10.2010.

NASAR, Sylvia. Uma mente Brilhante.  Rio de Janeiro: Record, 2006.

PENAFRIA, Manuela. Análises de filmes- conceitos e metodologia (s). Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/bocc-penafria-analise.pdf, acesso em 02.10.2010.

CORREIA, Eugenia. Psicanálises e educação: a escola nova em perspectiva. Brasília:  Iattermund, 1997.


UMA Mente Brilhante. Diretor: Ron Howard. Interpretes: Rossel Crowe, Jennifer Connelly, dentre outros. Roteiro: Akiva Goldsman.  1 DVD ( 136 mim ) color NTSC..Studio Universal Pictures.

KRUTZEN, Eugenia Correia. Oficinas terapeuticas: elementos na interface arte e psicanálise. Rio de Janeiro: T.mais.oito, 2008.



[1] O termo "esquizofrenia" foi criado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis ressaltar a dissociação que às vezes o paciente percebia entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo. Hoje é o nome universalmente aceito para este transtorno mental psicótico, entretanto, no meio técnico e profissional se admite que o termo pode ser insuficiente para descrever a complexidade dessa condição patológica.
A Esquizofrenia é uma doença da personalidade total que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias.
Disponível em: http://gballone.sites.uol.com.br/voce/esq.html, acesso em 20. 10. 2010
[2] O delírio é toda convicção inabalável, incompreensível e absurda que um psicótico tem. Disponível em: http://www.psicosite.com.br/tra/psi/psicose.htm, acesso em 10.10.2010.
[3] Trecho retirado do filme Uma mente Brilhante.

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