sexta-feira, 2 de agosto de 2013

 O ENSINO E A ÉTICA NA CONTEMPORANEIDADE
                                                                                                                                                                                                         OuvLer foneticamen 
          O presente trabalho apresenta uma discussão e reflexão a respeito da ética na vida docente,  buscando responder a seguinte pergunta: Qual a relação entre ser professor e a ética? Embasado no artigo: Nas trilhas da ética e da espiritualidade: novas possibilidades no campo do pensamento pedagógico de Auricélia Lopes Pereira, e no texto: Professor, personalidade saudável e relações interpessoais: por uma educação da afetividade, dos autores Juan José Mouriño Mosquera e Claus Dieter Stobaus.
           Em primeira instância faz se pertinente tentar definir o termo ética.
Para o ramo da filosófica, ética e moral tem significados diferentes. A ética está pautada aos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, a moral por sua vez está ligada aos costumes, normas, tabus e convenções instituídas por cada sociedade.
          No artigo: Nas Trilhas da ética e da espiritualidade: novas possibilidades no campo do pensamento pedagógico, Pereira aborda a questão da ética pautada nas emoções, nos sentimentos, nas questões internas dos sujeitos.
          A autora ao citar Ítalo Calvino aponta que a primeira virtude deixada escrita por Calvino para o terceiro milênio é à leveza. A leveza seria então uma condição de subtração do peso, ou seja, tornar-se mais leve, deixar sair os sentimentos, as questões que afligem o ser humano. Discute também que um dos enormes desafios para o século XXI: é tornar o mundo mais leve, diante de um mundo das constantes informações e mudanças. O mundo contemporâneo está fragmentado, como adquirir leveza diante de um mundo carregado, e afetado pela violência?! Precisamos urgente rever as relações sociais, as relações do ser humano com o meio em que vive. Vivemos em um mundo de imagens, constantes acontecimentos e mudanças, o efêmero, isto é, aquilo que dura apenas um instante, que se esvai, mesmo assim pode ser um peso para a alma. O que é efêmero em uma instância em outra é continuidade, a efemeridade deixa marcas.
         O professor em sua vida docente necessita ter consigo leveza, para que possa subtrair o peso acerca das energias “negativas” diariamente.
 Um mundo cada vez mais diverso, onde todos são diferentes e ao mesmo existem igualdades, o saber na contemporaneidade já não dar conta das inquietações que faz parte desses novos tempos. Não que o docente não deva dominar sua área de conhecimento, pelo contrário, o professor atual deve dominar sua área de formação, porém precisa está ligado em outros assuntos, e o grande paradigma da atualidade são as pontos internas do sujeito. O professor não é um terapeuta, na sua formação docente estuda psicologia justamente por necessitar de um olhar sensível acerca do outro.
           Diante dessas considerações percebeu-se que a ciência costumeiramente tende a separar o corpo e o espírito, razão e emoção. Não devemos entender a ética não apenas como um conjunto de regras, do qual o individuo é constituído, e sim a ética faz parte da existência desses indivíduos, é sua maneira de se colocar no mundo, é sua filosofia de vida. Enquanto a moral que são as regras estabelecidas por uma instituição, a ética faz com que o sujeito administre a si mesmo. A ética tem o objetivo de tornar o sujeito único, a moral apenas classifica-o.
Ainda no artigo nas trilhas da ética e da espiritualidade, a autora infere que Felix Guattari, na década de 90, resgata a ética a partir do conceito de ecosofia. No seu entender a ecosofia restaura a ética como campo prático da vida. A ecosofia vem a significar um cuidado com o mundo, com a sociedade e com o individuo, não passa pela norma, pela moral, passa por outra atitude frente ás diferenças éticas, estéticas, sociais, culturais e subjetivas.
A ecosofia considera que o pluralismo é primordial e o respeito aos outros devem consistir em todas as ações dos indivíduos.
            O ser humano tende a simbolizar o mundo, no processo de simbolização ou de dar significado ao mundo produz também às singularidades, isto é, as diferenças. A diferença não deve ser vista como algo a ser eliminada e sim um elemento a ser explicado, compreendido, uma vez que faz parte de todos. A ecosofia social prioriza uma compreensão do mundo plural, essa compreensão não visa à decodificação do outro, é respeitar a peculiaridade do outro, o desafio do professor na contemporaneidade é ter essas percepções, saber que vive num mundo plural e que precisa ter uma posição acerca de uma atitude levando em conta a ecosofia social. O outro tem suas diferenças, mas são elementos que fazem parte do humano, não sendo negativo ou positivo necessariamente.  A ética e a espiritualidade na vida docente é uma das características a ser priorizada. O professor deve aprender a conviver e a falar das diversas culturas, sem estereótipos, é reconhecer que existe, sem basicamente impor um juízo de valor.
           O mistério, segundo o artigo Nas Trilhas da Espiritualidade, o mistério a estranheza são dimensões do viver. Segundo Pereira ao citar Guattari coloca que: “A ecosofia social e ambiental impõe antes de tudo uma reinvenção do sujeito. Só um sujeito ético está capacitado a viver num mundo que tem como signo a pluralidade. Só um sujeito ético é capaz de, mesmo sem compreender no seu todo, a diferença, acolher a sua estranheza”. (PEREIRA, p.2).
            Num mundo da diversidade um grande modelo para a educação é a compreensão. São perguntas que devemos fazer diariamente: - Como estamos nos relacionando com o outro? Como estamos compreendendo o outro? Como estamos entendendo as diferenças?   A compreensão é um dos elementos primordiais para a vida e para o processo de educação. Como seres viventes no mundo, significamos esse espaço onde habitamos, interpretando nossas experiências dando sentidos as coisas, a nós e também ao mundo. Esses sentidos são possíveis graças às impressões pessoais que também dialogam com o sentido histórico, uma vez que o ser humano é biopsicossocial.          Compreender significa diminuir a distância entre eu e o outro. Para compreender a distância entre o eu e o outro, primeiro é preciso compreender a distância entre o eu e minha imagem, ou seja, compreender a si mesmo. A leveza é, pois uma atitude em relação ao outro, não estabelece uma decodificação ou explicação, mas aceitar o outro nas suas peculiaridades. A educação num mundo da diversidade acolhe a diferença, porém só há acolhimento quando há aceitação e consequemente só há aceitação quando há visibilidade.
           Ao pautar a ecosofia social no acolher a diferença, o acolhimento do sujeito por si mesmo pode ser entendido como ecosofia mental. Trata-se de fazer um exercício de si para si mesmo (autoconhecimento). No mundo contemporâneo precisa-se de um profissional que tenha um pensamento ou reflexão sobre si mesmo e sobre o outro, não como um julgamento, mas como uma forma de acolhimento. Uma das atribuições dos professores é de acolher o outro, acolher a diferença.
          As relações da ética na contemporaneidade não se atem apenas questão respeito, porém a filosofia de vida. A partir do momento em que o profissional tem afeto pela profissão ou área de conhecimento e pesquisa a qual escolheu, passará esse êxtase aos educandos. Os educandos intuem quando o educador ama a disciplina a qual leciona.
          A filosofia de vida implica numa sabedoria, para os gregos existia o saber útil que tem sua ascendência na espiritualidade. O saber útil não era para todos os cidadãos,e sim para aqueles que apresentavam uma meta existencial, desenvolvendo seu próprio eu, posto o seu ethos, modo de ser. O saber útil estava ligado à Phronesis, o saber que se propõe a refletir a respeito dos enigmas da vida e como acessar o eu.
 A ecosofia mental estabelece que a educação, e o apotegma pedagógico sugerem o retorno ao espiritual. A espiritualidade conduz o homem a um saber terapêutico, assim o professor precisa dessa espiritualidade para que possa conduzir a si mesmo e aos educandos a um saber terapêutico. Para os filósofos antigos existia a enkratéia (uma dobra de força que o sujeito faz sobre si mesmo, sobre sua própria vida). A phronesi é o saber que serve para responder as inquietações da vida do sujeito. Acreditar numa ética que o sujeito utiliza para si mesmo, fazendo de si e da vida uma obra de arte. Não levaremos em conta apenas as experiências adquiridas ao longo da vida no que diz respeito às conquistas de estudos e diplomas, contudo pelo ser que nos tornamos, que somos e queremos ser. Que marcas queremos tirar de nossa alma? Como chegaremos à outra maneira de viver? Como lidar e aprender a conviver com os nossos fragmentos? Como ser ético numa profissão que exige tanto de nossos esforços internos e externos?
            A autora Auricélia ao citar Pelbart assevera que: “em algum momento algo acontece e a vida racha ao meio, desequilibra-se de modo que suas metades já guardam proporção alguma entre si.” (PALBART,1998).
            Geralmente “esse desequilíbrio da vida”, essa intranquilidade não é algo essencialmente negativo. O sujeito mesmo passando pelas fases difíceis da vida, precisa entender que isso é apenas um dado que faz parte do humano. É o sujeito que imprimi valor a esse dado, porém é apenas um acontecimento. Os dados não são carregados de peso, o peso é o sujeito que ao imprimir significados a esse dado pode interpreta-o como peso. O sujeito pode então ter um novo olhar sobre esse dado, esse interpretar os dados não precisa ser negativo, sempre se tem outra forma de olhar e ver a vida.  
           A vida emocional e a relação interpessoais dos professores, em sala de aula, um tema bastante discutido nos últimos tempos.  De acordo com os autores  Mosquera e stobäus  (2002) que infere Biddle, Good e Goodson (2000), citam Humber: que chamava a atenção da tentativa infrutífera de separar a vida pessoal do professor e de sua vida profissional. Lembram que um professor com mais condições de ser bem sucedido seria aquele que poderia e deveria desenvolver uma personalidade saudável e melhores relações interpessoais, tentando encaminhar-se para uma educação afetiva. ( MOSQUERA/STOBÄUS, p.91, 2002).
            Considerando as questões diárias emocionais afetivas, no campo pessoal e profissional enfrentadas pelos professores, percebe-se que suas relações interpessoais estão estreitamente ligadas a forma como ele lida com sua afetividade.  Entretanto, uma das situações mais difíceis de administrar é a hostilidade em sala de aula, na qual o profissional no ensino deve procurar identificar seus incômodos sem projetá-los no campo profissional. Essa hostilidade pode ter várias origens, internas ou externas, causadas ou absorvidas. Ao identificar as origens dessa hostilidade, será possível melhor desenvolver uma relação interpessoal com o grupo. 
            Ainda se tratando das relações interpessoais, o texto fala da personalidade saudável, onde se questiona o que é saúde, o que é doença, e qual a relação do professor na atividade docente. Entendendo a personalidade saudável de acordo com o texto seria quando uma pessoa consegue desenvolver sua capacidade critica e ouvir a sua voz interior, identificando os sinais de doença, dessa forma também terá a capacidade de ouvir o outro, compreendendo suas relações.
Conforme enfatiza os autores: Mosquera, Stobäus:

Frequentemente nos custa muito pra ouvir os outros, estamos muito mais preocupados em que nos ouçam, porém pouco dispomos a ouvir. O ouvir os outros e aprender a vê-los como são realmente é fundamental para as relações interpessoais, em especial para os professores que devem está muito atentos e poder, assim, agir melhor na realidade. (MOSQUERA, STOBÄUS; p. 97, 2002)

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Assim, o princípio para uma boa relação interpessoal, está no alto desenvolvimento, onde o profissional saiba ouvir além de ser o mediador do conhecimento, estabelecendo uma postura humana e reflexiva. Ao ministrar o conteúdo, o professor proporciona o fluir da comunicação, pois seu foco são as pessoas, e estas passam diariamente por transformações, internas e externas, estão sempre em desenvolvimento, quebrando seus paradigmas, vivenciando complexos e mudanças. Mas o professor não é diferente do seu foco, procura, portanto, construir-se diariamente para melhor compreender as pessoas e seu ambiente suscetível a constantes mudanças.
Diante das considerações, trilhando o caminho da docência pela ética, identificamos que o professor não é um ser passivo diante das transformações sociais, este perante seu desdobramento traduz o acolhimento a vida, projetando um novo olhar.








 REFERÊNCIAS

MOSQUEIRA, Vera Mauriño Mosqueira e STROBÄUS, Claus Dieter. O Professor, personalidade saudável e relações interpessoais: por uma educação da afetividade. IN: ENRICONE,Délcia.(Org). Ser Professor. Porto Alegre: EDIPUSRS, 2002, P.91-108.

PEREIRA, Auricélia Lopes. Nas Trilhas da ética e da espiritualidade: novas possibilidades no campo do pensamento pedagógico.

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